A Noção de Cultura nas Ciências Sociais

Através desse texto, pretende-se demonstrar as principais idéias expressas no primeiro capítulo do livro "A noção de cultura nas ciências sociais" de Denys Cuche, intitulado de "Gênese social da palavra e da idéia de cultura". O texto refere-se à formação da palavra "cultura", quais suas peculiaridades, como ocorreu sua evolução histórica, ou seja, sua genealogia. O autor também expõe à semântica e a lingüística da palavra, deixando bastante perceptível que não se pode pensar a cultura sem relacioná-la aos laços existentes entre a história da palavra e a história das idéias, restringindo-se a analisar apenas o conceito como é utilizado nas ciências sociais, dado a sua diversidade de sentido que não cabe ressaltar nesse estudo.
Segundo o autor a origem e a evolução semântica da palavra foram produzidas na França e depois difundidas pela Alemanha e Inglaterra. Na França, no século XIII, a palavra cultura, que provinha do latim, relacionava-se à terra cultivada denotando uma condição, um estado. Já no século XVI, o conceito se expandiu, passando a assumir a ação de cultivar. Em meados desse mesmo século o conceito amplia-se novamente, designando o espírito que busca o conhecimento, em um sentido de elaboração. A partir desse momento a palavra cultura teve seu uso difundido cada vez mais, chegando no século XVIII a ser expressa no dicionário francês, significando o espírito culto nas ações humanas (ex: cultura das artes, cultura das letras...).
Com o advento do iluminismo juntamente com a emergência dos ideais ligados ao progresso, racionalismo, antropocentrismo, educação do espírito entre outros, o sentido de cultura passa a ser entendido como a soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade, adquirindo o caráter de universalidade. Então neste momento o vocábulo cultura se aproxima de civilização (cultura própria de um povo), na medida em que quanto mais civilizado o povo for, mais cultura tem e que o atraso dos outros povos poderá ser corrigido com a ajuda daqueles mais civilizados (etnocentrismo).
Nota-se que no final do século XVIII e início do século XIX, a termologia Kultur aparece na Alemanha, a qual não se encontrava unificada e buscava a formação de um Estado-nação. Era nítida a necessidade de um resgate à identidade nacionalista, o que distinguiu sensivelmente o sentido semântico na antítese cultura/civilização presente na França.
A nobreza na Alemanha estava relativamente isolada em relação às classes medias, e a distância social alimentava certo ressentimento, sobretudo entre muitos intelectuais que se opunham aos valores de cultura (como valores espirituais), que para eles eram baseados na ciência, literatura e na arte. Os intelectuais passaram a criticar essa corte por passar a maior parte do tempo apenas tentando imitar a forma de vida "civilizada" da corte francesa. Com isso tudo que é autentico e que contribui para o enriquecimento intelectual e espiritual será considerado como vindo da cultura; ao contrario o que é somente aparência brilhante, leviandade, refinamento superficial, pertence à civilização. Denominou-se então tudo que é civilizado singularmente uma grande falta de cultura.
Em 1774, indo de encontro aos princípios universalistas do iluminismo, surge Herder que defende a particularidade de cada cultura. A consciência Alemã passa a possuir uma visão de superioridade, ligando cada vez mais a cultura ao nacionalismo, transformando a cultura Alemã numa civilização que enfoca os progressos materiais, ligados ao desenvolvimento econômico e técnico.
Na França, a palavra cultura passa a abranger outros significados mostrando que também existem particularidades em cada comunidade, criando um elo com a palavra "civilização", porém o conceito continua marcado pela idéia de gênero humano em uma cultura universalista, coletiva. Já no século XX, as rivalidades entre o nacionalismo das duas nações são maximizadas, e as visões Alemãs e Francesas continuam sendo bases de definição do conceito de cultura.
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Gênese Social da Palavra e de Idéia de Cultura publicado 6/03/2009 por Filipe Franco em http://www.webartigos.com